ANIARA

As palavras de sua noiva, naquele instante, fez com que ele imaginasse reflexos de suas imagens, idênticas em humanidade, porém opostas, naquilo que poderia ser comparado a um negativo de uma foto, ou a de uma paisagem, quando elevada às margens de um lago, que permita ser refletida em suas águas, lá embaixo. O que significava ser alto no mundo dela, no dele nem tanto assim, o que parecia ser fechado para ela, no dele demasiadamente escancarado. Mas também como ele, ela poderia contar histórias das suas frustrações. Enquanto Nuno, experimentou na vida, em parte da sua infância um berço mais abastado à suas necessidades básicas, como conhecimento sistemático num banco escolar, melhores oportunidade, liberdades masculinas para suas andanças pelo mundo, enquanto Aniara; experimentou o trabalho infantil e a carência material, mas gozou da solidariedade da comunidade familiar unida, contudo amargou a exclusão do conhecimento sistematizado. Agora, de repente se veem submetidos e tentados a querer trilhar por um caminho comum, calcando as suas buscas, sem ignorar a bagagem e as cicatrizes, signos das privações e renúncias de qualquer espécie.