A função de uma raiz

Oscilando entre fluxos de consciência, debates existenciais e a história de vida de uma personagem que não se encaixa em um molde social, A FUNÇÃO DE UMA RAIZ é muito mais que uma mera ficção ou um pano de fundo para críticas sociais. Nessa metanarrativa deliberadamente fragmentada, o leitor é constantemente confrontado com a introspectiva e alienada vida da protagonista, que, por sua vez, parece tão intangível quanto o homem enigmático com quem ela pontualmente se encontra. Conforme a história avança, tanto ela quanto o leitor são forçados a reinterpretar eventos passados, lançando sobre eles não apenas um novo olhar, mas também um quê de dúvida quanto à natureza do tal sujeito que com a protagonista dialoga.

Apesar disso, a grande engrenagem por trás deste livro não está na história de primeiro nível, mas precisamente no exacerbado uso de metáforas, na incontornável abstração dos pensamentos, na prosa poética que permeia todos os capítulos e na exploração das ideias subjacentes que dos grandes diálogos partem. A oposição ao sistema — a saber, toda e qualquer entidade que suprima a individualidade e propague a imagem de um ideal uniforme —, seja ele estrutural, religioso, moral ou governamental, é um dos alicerces da obra, e permeia de ponta a ponta tanto a visão do narrador quanto o posicionamento cético da anti-heroína.

De uma perspectiva um tanto ampla, e sintetizando em poucos termos a primordial função de uma raiz, a jornada de Olga pode ser vista como uma tentativa de resgate da profundidade humana, um convite a quebrar as barreiras do simplório, a desmantelar a ordem do perfeito, a imaginar um mundo além do linear, a olhar além da superfície, buscando explorar águas turvas e cavernas não mapeadas, mesmo que isso signifique afastar-se da costa, ora momentânea, ora permanentemente.