Djalma Andrade, personalidade emblemática de seu tempo (1891-1975), sai inteiro da primeira metade do século XX para estampar-se nas páginas cuidadosamente preparadas pelo historiador Paulo Henrique de Lima. Ele viveu de modo intenso o período, alcançando o final do terceiro quartel do Novecentos, como se tudo se conservasse plenamente luminoso na belle-époque em que pontificou de maneira singular. Tendo percorrido um entrecruzar de eras, entre o fecho do ciclo do ouro e a aurora da modernidade, o cavalo e o automóvel, o soneto e o verso livre, o palco teatral e a tela do cinematógrafo, a República Velha e o Estado Novo, o bernardismo e o regime militar de 64, a jovem Cidade de Minas e uma Belo Horizonte encorpada, palmilhou as trilhas aprofundadas nesses territórios e suplantou, com uma verve espantosa, as ondas e redemoinhos do fluxo cronológico.
Já se recolhia, contudo, às efemérides da Academia Mineira de Letras, com o derradeiro chapéu, a indefectível gravata borboleta e a bengala batuta, quando Paulo Henrique de Lima, despertado pelos ditos e interditos, inéditos e inauditos de Congonhas do Campo, debruçou-se sobre a trajetória do autor da “História Alegre de Belo Horizonte”. Houve até polêmica e rixa entre cidades que reivindicaram seu berço, pelo que o pesquisador decidiu dedicar-lhe um estudo de fôlego, a fim de situá-lo, de fato e de direito, entre os congonhenses que ganharam o mundo.
Curiosa é a figura de Djalma Andrade, “artista de feitio clássico”, como o definiu o temido Agripino Grieco. Trovador desabusado e provocador, jornalista inclemente com o arbítrio dos poderosos e as transgressões dos modernos, homme à femmes capaz de recasar-se aos 80 anos, nasceu ao pé do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, no alto do Morro do Maranhão, velho distrito de Redondo do arraial de Nossa Senhora da Conceição das Congonhas do Campo.
De Congonhas a Queluz, hoje Conselheiro Lafaiete, junto à Lamim ancestral, de Belo Horizonte ao Rio de Janeiro, cuja imprensa sempre lhe acolheu os versos, o estudante de medicina, advogado, jornalista e infatigável versejador fez-se partícipe das tramas literárias e políticas que acabaram por levá-lo algumas vezes à prisão por desacato aos mandatários do Palácio da Liberdade e do Catete e a uma cadeira na Academia Mineira de Letras, da qual foi presidente. A Djalma Andrade deve-se o primeiro livro sobre o Aleijadinho e a obra máxima em Congonhas do Campo, bem como as quadras e trovas que narram, com humor e ironia, o dia a dia da sua Belo Horizonte.
Paulo Henrique de Lima, estimulado por Avelina Noronha, notável estudiosa da história queluzense, realiza um trabalho repleto de significados culturais, ao lançar “Venenos Adocicados”. Conheci Djalma Andrade e seu irmão, o escritor Moacyr Andrade, próximos de meu avô José Oswaldo de Araújo, evocado no livro, e fui amigo de Odin de Andrade, autor do admirado “Juventude, Juventude”, memórias de um belo-horizontino também singular. Valho-me dessas referências para atestar a qualidade da biografia que revela ao leitor não só o poeta, mas toda uma época, por meio de um retrato que flagra, à sua volta, uma legião de personagens da história de Minas Gerais e do Brasil.
*Angelo Oswaldo de Araújo Santos
Secretário de Estado da Cultura de Minas Gerais,
membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB),
do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG)
e da Academia Mineira de Letras (AML).
ISBN | 978-85-921258-0-6 |
Número de páginas | 349 |
Edición | 1 (2016) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabado | Tapa blanda (con solapas) |
Coloración | Blanco y negro |
Tipo de papel | Offset 80g |
Idioma | Portugués |
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