A poesia de Rossyr Berny é uma cartografia lírica dos gemidos. Não se trata do som e sentido de uma fala tranquila e cartesiana. Ao contrário da domesticada enunciação da razão, os gemidos animais lembram a nossa necessidade de gritar e urrar diante à dor dos subalternos. Igual uma cicatriz sonora, os poemas apresentam a animalidade angustiada daquele sujeito que não recusa a rebeldia no seu cotidiano. Nos seus poema-latidos, o poeta orquestra uma dissonante sinfonia da inconformidade ao mirar dias de pássaros quebrados. Seja em madrugadas de vistas vazadas, seja em braços erguidos em floração, os poemas clamam por um devir de resistência e sobrevivência, mesmo quando estamos cansados de soquear o escuro.
Não há como não lembrar do final do Processo, de Franz Kafka, no qual o personagem K “como um cão” termina sua absurda jornada de sofrimentos perante múltiplas injustiças. É isso que ecoa nos poemas de Rossyr: a força residual que pulsa nas situações de ocaso, na ameaça do extermínio, nos naufrágios dos convívios humanos. Assim como os gritos de Artaud remetem à fisicalidade da voz rasgada, os gemidos animais presentes neste livro são sementes verbais que não se resignam às falsidades de um analfabetismo afetivo.
Boa leitura do poema-gemido. Poema-germinante de uma esperança da partilha do sensível.
Prof. Ricardo Barberena
Escola de Humanidades da PUCRS
Número de páginas | 248 |
Edición | 1 (2018) |
Idioma | Portugués |
¿Tienes alguna queja sobre ese libro? Envía un correo electrónico a [email protected]
Haz el inicio de sesión deja tu comentario sobre el libro.