CALÇA CURTA II

Por FERNANDO MOURA VIEIRA

Código del libro: 690501

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Livros, Ensaios, Literatura Nacional, Ficción juvenil

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Sinopsis

Neste 5º volume de seus saborosos relatos, Fernando Moura Vieira brinda-nos mais uma vez com seus inspirados textos, em relatos de sua infância pelas ruas e avenidas de Campinas, um dos bairros mais antigos e tradicionais de Goiânia, onde viveu boa parte de sua vida, contando-nos histórias de suas andanças pelo bairro, brincadeiras, jogos, festas, em companhia de seus amigos e companheiros de aventuras, e dessas passagens traz-nos belas reflexões sobre essa aventura chamada Vida, da qual os escritores conseguem extrair inusitadas abordagens, transformando simples casos em fonte de inspiração profícua e que fazem com que os leitores quase visualizem os personagens que surgem nessas crônicas – e no poema que abre o livro -, extraídos da própria vida real, mas com um quê de magia, em homenagens aos velhos amigos e companheiros de suas aventuras pelas antigas ruas, avenidas, bosques e locais bucólicos, personagens estes que certamente se sentirão felizes ao lerem este livro de histórias e memórias sobre a popular Campininha, como era conhecida até pouco tempo...

Os textos reflexivos ou bucólicos de Fernando certamente trarão ótimas memórias da infância de boa parte de seus leitores, e particularmente aos que passaram a infância e adolescência em traquinagens com seus amigos, pelas ruas de Goiânia - e particularmente de Campinas - provavelmente muito semelhantes às nossas próprias reminiscências daqueles tempos onde não havia essa oferta abundante de tecnologia que hoje existe, trazendo às crianças e adolescentes muitos amigos virtuais em quem jamais darão um simples abraço, ou participarão juntos de inúmeras aventuras e jogos bucólicos, tão diferentes dessas aventuras virtuais em que as atuais crianças e adolescentes passam boa parte do seu tempo, em companhia de seus celulares e jogos eletrônicos, vendo os amigos virtuais à distância, através das telas que não transmitem abraços...

O primeiro texto de “CALÇA CURTA II” é um bucólico poema em forma de soneto sobre a infância, “INESQUECÍVEL INFÂNCIA”, dando-nos uma saborosa prévia sobre as histórias que se seguirão:

“Ah! Minha infância! Das cãs atuais, a essência!

Pois a vida, em suas primícias da aurora,

É viva, febril, inocente e canora!”

Em “NA RODA DA CIRANDA”, uma inspirada narração da brincadeira de ciranda, leva-nos a refletir: será que em algum lugar do planeta ainda existe essa brincadeira?

“Inebriante!… Doces noites enluaradas!

De mãos dadas, as vozes infantis, num coro, elevavam as preces musicais aos céus. A roda girava. O próprio tempo, deslumbrado, parava para observar a magia encantada que a inocência infantil criava. Não havia nada mais belo, mais lúdico do que aquilo.”

Em “DOS USOS E COSTUMES”, mais um bucólico relato:

“Arrebatada por contentamento,

Estalou os dedos de felicidade,

Recolhendo o objeto da disputa ao seio;

Fazendo-o, emitiu sugestivo suspiro de futura realização.

Ante a minha fingida insistência, negou-se, cortês,

A revelar-me o desejo, embora o soubesse tão meu.

Revelado não se concretizaria.

E acreditávamos, piamente,

Na realização das intenções dali imaginadas.

Em “A DOIS DERAM”, mais um saboroso relato de traquinagens infantis, celebrando o achado de um vale para entrar de graça no cinema, junto a um dos companheiros de infância:

“Quem teria colocado aquele salvo conduto ali, em perfeito estado, à nossa disposição? Por acaso, seria um figurão ou um bêbado qualquer – frequentadores daqueles bordéis – que teria perdido a dita entrada permanente? Quem se interessaria em fazer uma brincadeira de tão bom gosto conosco? Com tantas perguntas a responder, confesso que, no momento, não me dei conta do intrigante acontecimento. Tampouco ousamos especular sobre ele.

Em “OLHO DE BOI”, uma doce reminiscência sobre um dia de chuva que o obrigou a ficar em casa, cheio de tédio, num texto que me lembrou minha própria infância, onde vivia cercado de meus gibis do Fantasma, Flash Gordon, Mandrake, Tarzan e outros tantos personagens que me ensinaram a soltar as asas da minha imaginação, em incontáveis milhares de versos já publicados:

“O que nos sobra fazer, além de ler os Campeões do Oeste, os Fantasmas, os Tarzans e todos os gibis disponíveis? Lê-los mais uma vez, relê-los, treslê-los e pronto?!!! Existe, no entanto, um pequeno consolo após isso: sentar na soleira da porta e observar - com o juízo distante - aquele rio de enxurrada em plena Maranhão. (A água em boa hora lavava-nos a memória, clareando-a, livrando-nos, em compensação, também do tédio).”

Em “CABEÇA RASPADA, URUBU CAMARADA...”, uma antiga fotografia relembra Fernando de uma traquinagem que lhe rendeu o castigo de ter a cabeça raspada, para não se esquecer da travessura:

“Mal havíamos nos acomodado em seus frondosos galhos, surgiu à nossa vista - surpreendendo-nos -, uma das lavadeiras do Toquinho. Antecipava, a infeliz, a vinda dos meninos. Bacia à cabeça amparava ainda, com dificuldade, incômodo balde com as peças lavadas; a passos trôpegos, subia arfando a pequena ladeira, movida por arquejante esforço. Infelizmente, deu no que deu, e não tivemos a grandeza de correr para avisá-la, tampouco acudi-la no chão.”

Em “ÁLBUM DE FIGURINHAS”, Fernando conta-nos uma história sobre troca de figurinhas com os amigos, todos tentando completar ser álbuns:

“A princípio, um pequeno borrão denunciou a (figurinha) carimbada que, desde então, exporia mais intensamente a minha sofrida emoção. Seria a joia da coroa, a difícil da lambreta? Ou estaria ali o guidom da bicicleta? Ou, ainda, na pior das hipóteses, o centro da bola que nos faltava?”

Em “FINCA” e em “O BETE”, Fernando conta-nos em detalhes em que consistiam essas brincadeiras infantis, tão comuns em nossa infância, e que hoje não passam de velhas brincadeiras que perderam a graça, diante da imensa sofisticação dos jogos eletrônicos:

“Um risco reto fora feito no chão, e cada um, obedecendo à maneira “estilo” (segurando a finca pela ponta), mirou e atirou de modo a que ela cravasse o mais perto possível do risco do ponto. Fui intermediário; Juvenal cravou-a rente; seria o primeiro ante a imperícia de Jeze, nosso companheiro, que cravou um dedo pelo lado de fora da minha marca. Em consequência, o terceiro.”

“O jogo do bete, que essencialmente se parece com o baseball, consiste em 4 elementos: 2 rebatedores e 2 atiradores. Dois círculos são inscritos no chão (raio +/- 60 cm), com armações triangulares de gravetos ou latinhas, no centro. A ação do jogo determina a escolha das funções de atiradores e rebatedores, acontecendo a primazia ser desses últimos. Após, os rebatedores se posicionam com seus betes em frente às casinhas, protegendo-as, e os atiradores atrás, com a missão de arremessarem a bolinha rasteiramente, visando derrubar a casinha distante e assim assumirem a primazia de rebatedores.”

Em “A ESTREIA DO OTILINHO NO INTERIOR”, Fernando conta-nos sobre uma pelada do time de futebol do qual participava, no interior do Estado, em que estreava no time um centro-avante com esse apelido:

“Ele tinha o atrevimento de rasgar as grandes defesas. Dotado de músculos rijos e desenvolvidos – que só Maurício, um de nossos atletas, os teria posteriormente no Atlético Goianiense –, ganhava no arranque e investia, não só pelo meio, área natural de sua atuação, mas, de surpresa, sempre irrompia pelos lados.”

Em “BOLINHA DE GUDE”, Fernando aborda um outro jogo infantil que era bastante comum à época, e hoje igualmente abandonado:

“O garoto – que se aproximava, soberbo – ajeitou as tiras dos suspensórios de pano que mantinha a calça, cujos bolsos “estufados” deixavam à mostra as pequenas bolas de vidro. Abaixou-se, em seguida, depositando no chão uma grande lata de bolinhas que também trazia à guisa de troféu. Reconheci algumas.”

Em “OS PIÕES DO HÉLIO PALITO”, o assunto é um outro antigo jogo infantil abandonado pelas crianças de hoje: o pião (ou piorra, que era um pião pequeno), que é um artefato com ponta de metal, e as crianças duelavam para ver qual pião era o mais forte:

“Aparentemente não trazia nenhuma de suas novidades, pois era do seu feitio aparecer com elas. O que dizer de seus piões coloridos que, ao girarem, transformavam os tons numa visão extremamente chamativa? Ou daqueles perfurados por ferros incandescentes que emitiam sons inauditos?”

Em “O GÂNGSTER MIRIM”, apresenta-nos um novo e curioso personagem, o Anielson, que era mau por natureza, mas capaz de gestos de bondade:

“Debruçado no balcão do tempo, ocorreu-me repassar as faces daquelas velhas e simpáticas amizades e daquelas que nem tanto. Num desses relances fisionômicos, dei-me conta do Anielson. Anielson era aquele a quem diziam ser capaz de estuprar as meninas de seus olhos e ainda se divertir com o que restasse das pupilas!

Mau, tremendamente mau, desde pequeno insinuara-se ser um daqueles grandes gângsters dos filmes, conduzindo os colegas menores nas brigas de quadrilha que ele frequentemente arrumava.”

Em “SÓCIOS DE BRIGAS”, somos apresentados a uma estranha brincadeira daqueles tempos, as brigas arranjadas, onde dois dos meninos tiravam no braço suas diferenças pessoais, assistidos por uma plateia que também servia de torcida:

“Cara a cara, braços e punhos cerrados protegem as caras enfurecidas, quando feições, ferreamente amarradas numa encarada desafiadora, pressagiam a se atracarem. Tudo em volta conspira e atiça os dois oponentes, contudo, a rixa para se desencadear depende de certa atitude. Trocam, entre eles, seguidas provocações, sem, no entanto, avançarem no enfrentamento. A faixa entre eles representa um divisor de honra entre os dois. Quem a riscou tem-na por intocável pelo adversário que, por sua vez, a vê como um desafio da própria coragem; danificá-la seria desmoralizar acintosamente o próprio oponente.”

Em “UM BANHO NO ANICUNS”, o leitor é apresentado a outras das brincadeiras infantis daquela época: tomar banho, em grupo, em algum riacho das redondezas, aprontando a maior algazarra:

“O segundo poço ficava na curva acima, aproximados cem metros, em meio ao terreno arenoso de capim baixo; sobre ele, estirada, outra árvore morta que caíra por sobre a água, tendo os galhos já secos da fronde fixados na margem oposta. Um desafio corria por ali: mergulhar levando no pensamento a ansiedade de passar sob aquele tronco, arrastando a barriga na areia do leito e, acima de si, sentir a rusticidade da madeira pressionando as costas!”

Em “OS ABACAXIS DA MAUÁ”, mais uma brincadeira das crianças desse tempo perdido no passado é apresentado ao leitor: roubar abacaxis pérola no quintal de um vizinho:

“Filar frutas pelos quintais não passava de divertimento, exercício de audácia e traquinagem, nunca um roubo propriamente, desde que não passasse disso.

Entendíamos os frutos, bênçãos da natureza, constituindo bens comuns, um comunismo imaginado e praticado, relevados os ônus da produção.

Os abacaxis da Mauá eram especiais, já os provara: pérolas legítimos de casca roxa; descascados, exibiam a massa amarelada pálida minando abundante caldo doce, tornando-os distintamente apreciáveis.

Valiam a pena!”

E, em “ALÉM DA DOR E DO SOFRIMENTO HUMANOS”, um dos textos mais tocantes do livro, uma vaca resiste bravamente aos peões que querem levá-la para o matadouro, com um final arrebatador:

“A velha Maranhão - em seu plano esburacado e poeirento –, não me mostrou apenas o sofrimento humano; vi-o também - digo até com maior pesar e injustificada ação - nos olhos súplices e tristes de outros animais, tal o contido nas lágrimas que corriam dos olhos daquela pobre e indefesa criatura prestes a parir e, covardemente, levada para o abate.”

Características

ISBN 9786501062952
Número de páginas 116
Edición 1 (2024)
Formato A5 (148x210)
Acabado Tapa blanda (con solapas)
Coloración Blanco y negro
Tipo de papel Offset 80g
Idioma Portugués

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