Sempre tive um indescritível medo da morte. Desde criança, desde que me dei por gente. Medo de morrer de repente, do nada, infarto, tiro, uma doença rara, um atropelamento, câncer, overdose. No aconchego da noite, na fatídica hora de recostar a cabeça e dormir, as piores fantasias terminavam com o meu fim. Tanatofobia, chamam, e não é tão incomum. Uma parcela considerável da população sofre com esse comichão na alma. Uns mais, outros menos. Eu, mais.
O advento da paternidade me trouxe um medo ainda pior: o de que a morte fosse de um de meus filhos. Quem já viveu essa experiência sabe como é rolar na cama com essa vela a derreter na mente. Talvez tenha sido o motivo por ter procurado tanto a vida, covardemente, sem os riscos, sem ousadias, mas também sem o comodismo e a retidão, posicionando-me na escala social numa zona propensa ao limbo, mas onde os filhos crescem seguros e sadios. Entendi meu pai. Perdi-me, desviei-me, caí, tantas vezes retornei ao caminho, até o momento em que o limbo impôs-se e eu me vi em turva encruzilhada.
Ondovato nasceu quando venci a morte. Ou o contrário.
Autor de:
“Eu adoro MPB”, contos.
“O Inominável”, romance.
“Como arruinar a sua vida em 12 ou 13 lições”, romance.
“O caos é dentro da gente”, dramaturgias.
“O maior Círio de todos os tempos”, romance.
“Todas as mortes de Chico Navalha – a autobiografia de um facínora”, romance premiado pela Fundação Cultural do Pará (em processo de publicação).
“A Parecerista”, romance (em processo de revisão).
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