Sobre o autor José Gomes da Silva Neto O Autor é um velho que nasceu no Piauí, numa pequena cidade chamada Uruçuí, mas viveu lá apenas um ano. Seus pais o levaram para viver numa pequena vila do Maranhão até os cinco anos, depois, de volta ao Piauí, foi deixado na casa dos avós maternos por um ano e meio, num maravilhoso sítio no município de Ribeiro Gonçalves cheio de água, pântanos e brejos, cacimbas, buritizais, frutas, jumentos, extensos canaviais, engenho de moer cana para fazer rapadura e cachaça, tudo bem próximo do tranquilo Rio Parnaíba. Com sete anos foi trazido para o antigo Norte de Goiás, onde hoje é Tocantins, e viveu em uma pequena cidade de nome Aliança do Norte. Concluiu o ginásio em Gurupi. Em seguida foi para Goiânia, onde fez o colegial e a graduação em Medicina na Universidade Federal. Após isso morou na muito agradável cidade de Belo Horizonte, onde fez especialização em Oftalmologia. Ao findar o curso, após três anos, trabalhou alguns meses no Pará, em Conceição do Araguaia. Daí foi trabalhar em Rondônia, quando a cidade de Rolim de Moura estava iniciando. Em seguida morou um ano e meio em Münster, Alemanha, onde frequentou aulas de latim, grego e filosofia na Universidade. O Autor gostou muito desses estudos em Münster, mas não conseguiu continuar porque não suportou exercer por mais tempo a honrada mas duríssima profissão de faxineiro, que era sua fonte de subsistência. Ao retornar permaneceu por dez anos na cidade de São Paulo, lugar de muitas solidões no meio da multidão. Concluiu a especialização em Medicina do Trabalho na Universidade de São Paulo. Também nessa universidade iniciou, sem concluir, cursos de Direito e Letras. Em São Paulo entrou no serviço público federal e, em 1999, a pedido, para ficar mais perto de sua família e amigos em Goiânia, foi transferido para Brasília, onde também montou um pequeno consultório popular de oftalmologia na periferia. Nesta cidade está há mais de vinte anos e dela só sairá para a viagem final.
Com tantas idas e vindas o Autor pode confirmar a opinião dos filósofos e escritores: por todos os lugares o sofrimento humano é o mesmo. Alguns fingem ser muito felizes, bem-sucedidos, vitoriosos. Muitos se sentem amados, bem-casados, seguros. Pode ser que existam sortudos. Entretanto, quase todos nós somos apenas peregrinos, solitários, indecisos, empurrados, curiosos, que não sabem como a viagem acabará.
O Autor tem uma certa pena da humanidade e do mundo. Não deveria, porque é humilhante para alguém ser objeto de piedade, mas o Autor não consegue refrear a pena que tem dos seus semelhantes e de si mesmo. Pena do sofrimento dos animais também. Não simpatiza com pessoas narcísicas, que se acham melhores que os outros, que estão sempre orgulhosos de suas realizações geniais, olhando para suas pobres emoções e necessidades. O Autor tem muito medo de se tornar narcísico, porque acredita que o narcisismo é uma doença contagiosa que afeta boa parte da humanidade.
O Autor não mostrará sua velhice. Você não verá fotos do Autor já velho. Verá apenas as fotos dele na juventude, ingênuo, idiota, ainda cheio de esperanças. Não confunda isso com narcisismo.
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