Uma paixão acaba acabando. Só na literatura o fim de uma paixão é descrita. O fim, enfim, não tem enredo. Na vida, depois da morte, pobre os que ficam. Mas ninguém os chora, a lágrima que corre é a da solidão, é desta nossa orfandade tão dura e que nos dói desde que saímos da barriga materna. As honras a um morto é para que os vivos se confortem; ainda que seja impossível esquecer, que apenas não nos coloquemos tanto a lembrar. Toda musa é imortal? Não sei. As melhores palavras sem dúvidas são para o vento. Pôr no papel é uma aberta arrogância; querer vir cobrar algo mais tarde. Feliz é o beijo, a cantada barata, a mentira branca, as fracas promessas. Feliz é o riso da criança, o cão palhaço, o velho bobo. Eu quero esquecer que tive na vida algum propósito, quero escrever ignorando tudo que já fiz, quero encher a minha cara do agora, rasgar os meus documentos, libertar o meu Eros. Que desça o pobre caixão, que badalem os sinos, que se cubram de negro as íntegras senhoras. Não defendo mais nada, topo a fogueira numa boa, o limbo rindo, a cerveja vingadora por mais ordinária que seja.
Número de páginas | 146 |
Edición | 1 (2016) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabado | Tapa blanda (con solapas) |
Coloración | Blanco y negro |
Tipo de papel | Offset 80g |
Idioma | Portugués |
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